Todo ano em setembro é a mesma história. Inicia com a comemoração do dia do profissional de Educação Física. Alguns pessimistas até perguntam: Temos o que comemorar? Os otimistas dizem que sim alardeando que antes não éramos nada onde qualquer um, com ou sem formação podia ministrar aulas em qualquer lugar principalmente nas academias. Como muitos realmente não tinham o mínimo conhecimento sendo meros repetidores de movimentos como se fosse uma receita de bolo a profissão era mesmo uma bagunça e os quatro anos de formação ralando dentro de uma faculdade não serviam de nada porque depois o graduado tinha que disputar espaço com qualquer um sendo vítima principalmente da exploração da mão de obra barata. Querendo ou não hoje isso mudou e a profissão pelo menos está regulamentada, normatizada e organizada. Falta é em alguns casos aplicar a lei.
Há grande reclamação de uma parcela dos profissionais dizendo que a sociedade não valoriza, que os salários são baixos e como no passado são vítimas da exploração da mão de obra barata de um círculo vicioso. Quando estagiários aceitam trabalhar ocupando o espaço de um profissional quando deveriam estar trabalhando sob supervisão de um graduado. Ao concluir a formação continuam trabalhando com o mesmo salário e essa moeda tem duas faces: a do empresário e a do profissional de Educação Física.
Alguns proprietários não atentaram que academia, por menor que seja, deve ter uma estrutura empresarial com foco no cliente. Os anseios dessa clientela mudaram simplesmente porque vivemos numa evolução constante e, muitos profissionais não acompanham essas mudanças. A rotatividade é um fato mencionado em muitos trabalhos mostrando que a defasagem entre o número de alunos matriculados e os freqüentadores regulares chega a 50%. O fichário de ex-alunos comparado com o efetivo praticante chega ao dobro e em alguns casos o triplo. Não difere da nossa realidade e claro está que tem alguma coisa errada.
As academias de pequeno porte mantêm relações mais pessoais com os seus clientes enquanto as de grande porte são voltadas ao mundo dos negócios onde o importante é o lucro e a impessoalidade empresarial é tanto com os clientes como a sua força de trabalho. Aula com poucos alunos corta-se o horário mesmo prejudicando alunos e professores.
Tanto as grandes como as pequenas têm as suas facilidades e dificuldades. Para as pequenas, teoricamente seria mais fácil administrar e a fidelização do cliente pelo contato mais pessoal. É mais fácil saber qual o desejo do cliente e onde melhorar. A dificuldade fica, entre outras, por conta dos encargos financeiros, e como geralmente essas empresas não trabalham com capital de giro, qualquer gasto extra ou saída de alunos fora da previsão “entram no vermelho”.
Já as de grande porte não teriam esse problema, mas podem pecar em não investir nos seus profissionais e relacionamento com clientes. Quantos donos de grandes academias não conhecem os seus clientes? São apenas fichas numeradas com foto 3 x 4 e, “data de pagamento”. Quando o pensamento empresarial é apenas lucro perde o cliente, o profissional que é desvalorizado e o próprio empresário que não se fixa no mercado.
A outra face é a de alguns profissionais que não se preocupam com a clareza pedagógica nas aulas de ginástica e musculação tornando essas atividades rotineiras e conformistas. Quantos executam suas aulas com plano de aula bem definido? É preciso estar atualizado. Um trabalho publicado na Revista Brasileira de Ciência e Movimento em julho de 2001, identificou que o nível de conhecimento dos alunos de Educação Física de diferentes períodos nas Universidades de São Paulo (Unicastelo, Unib, Uniban e FMU) naquele ano era muito fraco. Os alunos do 1º ao 8º período não tinham o hábito da leitura limitando-se a 3 dias por semana e 1,16h a cada um desses dias. Mesmo assim, o veículo mais lido respectivamente eram os jornais, os cadernos de anotações e por último as revistas não técnicas. De lá para cá isso pouco mudou e até a Internet é pouco usada a não ser para procurar trabalhos prontos.
Eu diria que temos sim. Muito a comemorar no dia do profissional de Educação Física, mas muito mais ainda a fazer pela profissão. Valorização profissional não se exige com palavras de ordem. Conquista-se com atitudes.
Cartas para: lcmoraes@compuland.com.br
Luiz Carlos de Moraes CREF1 RJ 003529
Para Refletir: O ser humano quando nasce é totalmente dependente e precisa tudo aprender. Algumas virtudes já nascem com ele. Responsabilidade pode ser uma delas. (Moraes 2010)
Sobre a Ética: Não precisamos nos preocupar com o mal profissional. Ele cai sozinho. (Moraes 2010).
|