A prevalência e a severidade de dores, cólicas e desconfortos abdominais são subestimadas pela maioria das pessoas - inclusive entre os homens - e os antiespasmódicos são a terapia apropriada para tratamento. Essas são as principais conclusões de um estudo feito com cerca de 9 mil pessoas de quatro continentes e que foi apresentado em 2006 nos Estados Unidos, durante um dos mais importantes congressos médicos, a Semana das Doenças Digestivas (DDW, na sigla em inglês).
Intitulada The community prevalence of abdominal pain and cramps: A multi-national survey*, a pesquisa epidemiológica mostrou que 1/4 da população sofre desses problemas e que mudanças simples nos hábitos podem colaborar para uma melhor qualidade de vida. "Os resultados dos estudos mostram que o início dos sintomas associados a cólicas, dor e desconforto abdominal é igual para os pacientes em todo o mundo. A
mudança do estilo de vida e os tratamentos com antiespasmódicos podem ajudar a aliviar os sintomas e diminuir a duração das dores abdominais", disse o Prof. Eammon Quigley, do Centro Alimentar Farmabiótico da Universidade Nacional da Irlanda.
O estudo apontou que os antiespasmódicos são a terapia mais utilizada para tratar cólicas, dores e desconfortos abdominais, principalmente nos EUA e na América Latina (respectivamente, 89% e 92% de todos os estudados). A pesquisa ratificou o que já era conhecido no meio médico: o mal acomete principalmente as mulheres, que representam 65% dos casos. Em média, 34,5% dessas pessoas têm forte manifestação de dor pelo menos uma vez por semana e em média, 81,3% tomam algum medicamento.
O gastroenterologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Décio Chinzon, que esteve presente à DDW, explica as diferentes causas de dores, cólicas e desconfortos abdominais em homens e mulheres. "Nos homens o abuso alimentar e o consumo de bebidas alcoólicas respondem respectivamente por 65% e 25% dos casos. Também fatores de origem emocional, como o
estresse, podem desencadear esse tipo de dor. Outro fato constatado é que na maioria das vezes os homens desconhecem o problema. A palavra cólica sempre esteve associada à
menstruação, logo ao universo feminino. Os homens não sabem reconhecê-la e, por isso, consideram-se imunes ao problema. Esse desconhecimento faz com que eles não se tratem da maneira correta", adverte o especialista.
Como é a incidência
de dores, cólicas e desconfortos abdominais no Brasil
Segundo a pesquisa Omnibus, feita em 2002 pelo laboratório farmacêutico Boehringer Ingelheim, cerca de 70% dos brasileiros sofrem de cólicas - e o mal não é exclusividade das mulheres. O estudo, que foi realizado com pessoas de diferentes idades e classes sociais, apontou que as causas do problema variam em homens e mulheres, mas a incidência em ambos é semelhante. Os homens declararam sofrer crises de cólicas 13,7 vezes por ano - o equivalente a mais de uma cólica por mês -, enquanto as mulheres, 16,2 episódios.
O estudo brasileiro revelou que, embora 75% das pessoas usam algum tipo de medicamento para aliviar as dores, poucas sabem que as cólicas devem ser tratadas com tratamentos específicos: os antiespasmódicos. O gastroenterologista Décio Chinzon explica que esses medicamentos relaxam a musculatura dos órgãos com espasmos (contrações involuntárias), aliviando a dor e eliminando a cólica. "A maioria utiliza apenas analgésicos que aliviam a dor mas não tratam sua origem, ou mesmo remédios específicos para outros sintomas, como digestivos e antiácidos", explica.
O médico esclarece que nem toda dor de barriga é cólica. "A pessoa com cólica sente pontadas na barriga e uma sensação de aperto que vai e vem. Outras sensações de desconforto bastante comuns são a queimação, que aparece quando o ácido do estômago volta para o esôfago, e o estufamento, que é a sensação de barriga cheia e desconforto. As cólicas estomacais e intestinais acontecem principalmente devido à ingestão de grandes quantidades de comida ou de alimentos gordurosos. Este tipo de cólica é mais comum entre os homens, quando exageram na quantidade de comida e bebida, durante as refeições. As cólicas renais ocorrem devido à formação de cálculos de cálcio, geralmente causada pela ingestão de pouca quantidade de líquidos ou de alimentos ricos em
cálcio. As cólicas biliares podem ser causadas pelo consumo de comidas gordurosas, que contribuem para o surgimento de
cálculos na vesícula
biliar. Já as cólicas menstruais são típicas das mulheres, principalmente as mais jovens", esclarece. De acordo com o especialista, outros fatores que podem desencadear dores e cólicas são de origem emocional, como estresse, problemas pessoais, profissionais e financeiros.
* Tygat GNJ, Paulo LG, Mueller-Lissner S, et al. The community prevalence of abdominal pain and cramps: A multi-national survey. Digestive Disease Week. 2006 Poster
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