Encaixe do quadril não existe

Parece incrível que mesmo tendo aumentado o número de faculdades de Educação Física formando milhares de jovens professores anualmente era de se esperar que a qualidade da prestação do serviço melhorasse e antigos mitos que reinam em salas de musculação deixasse de existir. Um deles, que não se sabe de onde surgiu, é o tal do “encaixa quadril”, posição de retificação da coluna lombar sugerida para executar exercícios de rosca bíceps em pé ou agachamento no aparelho específico com barra guiada.

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O "encaixa quadril" surgiu da necessidade das pessoas hiperlordóticas “atenuarem” a curvatura levando-a a posição anatômica mais cômoda. Atenuar não significa “retificar” a coluna como temos visto em algumas academias.

As quatro curvaturas: sacral, lombar, dorsal e cervical têm a função de dissipar as forças no sentido horizontal e são capazes de dividir por dez uma pressão resultante de uma carga e/ou impacto. A retificação de uma delas, normalmente a lombar, diminui em 50% a capacidade de dissipar forças sobre a coluna. Lesões entre L5 e S1 e/ou dores irradiadas podem estar associadas a exercícios mal executados tais como agachamento e rosca bíceps na posição de pé tudo por causa desse tal "encaixar quadril".

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Ao longo da vida as curvaturas vão se formando exatamente como na evolução da espécie humana que passou da posição quadrúpede à bípede a partir do pré-hominídeo. Assim a criança ao nascer tem a coluna lombar côncava para frente e somente aos treze meses se torna retilínea para aos três anos começar uma ligeira lordose lombar que vai se consolidar aos oito anos de idade para aos dez se tornar definitiva com o ângulo adequado. Para que isso aconteça de modo natural é preciso primeiramente deixar a criança se desenvolver naturalmente tendo sempre o cuidado com a coluna na hora de pegar no colo, dar banho, amamentar e não tentar adiantar nenhuma fase para mostrar à sociedade a sua criança prodígio como se fosse o seu troféuzinho. Se ninguém atrapalhar a criança rola, fica de bruços, levanta a cabeça, o tronco, fica de quatro, engatinha, fica de pé e anda. “Um ano andarás, dois anos falarás”. Andar antes disso não é nenhum ser de outro planeta e um pouco depois não é um retardado. Daí a necessidade de se deixar as crianças se desenvolverem com atividades lúdicas para que possa ter uma vida adulta sadia e coluna sem problemas pronta para executar tarefas funcionais e fazer exercícios.

Mais uma vez defendo o professor especialista na Educação Física escolar e do fitness, um dando continuidade ao trabalho do anterior a fim de se evitar absurdo como esse tal “encaixar quadril” para fazer exercícios em pé. Já imaginaram se um fisiculturista fizesse agachamento encaixando o quadril com as cargas enormes que usam? Não ia sobrar coluna para contar a história. Esses atletas em sua maioria primam pela execução correta de todos os exercícios e por isso conseguem resultados espetaculares.

Outro absurdo acontece com a execução do abdominal. Não é raro ainda vermos alunos fazendo séries intermináveis de abdominais das mais variadas formas inclusive a antiga onde se deitava completamente de barriga para cima, sentava-se abraçando as pernas e voltava à posição original.

Sabe-se hoje, que na posição deitada de barriga para cima e pernas esticadas (decúbito dorsal longo), o músculo psoas exerce uma função contrária deixando de ser flexor do quadril para ser hiperextensor da lombar, atuação conhecida como "paradoxo do psoas". Ou seja, puxa o quadril para trás forçando a curvatura normal da coluna devido a sua posição anatômica. Essa é a razão que na execução do abdominal superior (antigo supra umbilical) nesse caso a lombar deve ficar apoiada e retificada bastando flexionar as pernas eliminando a ação do grupo muscular iliopsoas.

Cabe ressaltar que os exercícios abdominais, levando-se em consideração a eficiência e segurança do aluno, seguem a premissa de flexionar e estender o tronco apenas de 15 a 20° mantendo a coluna lombar protegida. O resto, se não existir uma justificativa fundamentada na atividade esportiva do aluno, é pura invenção. Um abdome forte previne tanto a hiperextensão da coluna como a anteversão da pelve ajudando a execução da maioria dos exercícios de musculação, mas precisa fazer direito e a coluna lombar costuma ser alvo de dores e/ou lesões importantes. A grande maioria dos problemas costuma estar na execução inadequada de exercícios e/ou desatualizados.

Cartas para essa coluna:
Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 3529 - E-mail: lcmoraes@compuland.com.br

Bibliografia sugerida:
1) MIRANDA, Edalton – Bases de Anatomia e Cinesiologia. Ed. Sprint R.J. 2000.
2) Kapandji, A. I. (Ibrahim Adalbert) – Fisiologia Articular. Editora Panamericana.
Volume 3 - Tronco e Coluna Vertebral.

Para Refletir: Dizem que por mais fundo que seja o buraco que você tenha se metido sempre haverá uma esperança... Enquanto não houver terra por cima.
Sobre a Ética: Existem dois tipos de profissionais éticos. Os que têm a ética incorporada de berço pela educação recebida e os que apenas decoram o código de ética. Os que apenas decoram de vez em quando têm que consultar o código de novo. (Moraes 2010).

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Texto copyright © 2010 por Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 003529 - lcmoraes@petrobras.com.br | lcmoraes@compuland.com.br  
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