Luiz Carlos de Moraes é Personal Trainer há 36 anos e diz na entrevista que o principal problema dos maus hábitos de vida saudável das crianças não é falta de espaço e sim a falta de exemplo dos pais que ficam em frente ao computador e da televisão nas suas horas de lazer influenciando negativamente os seus filhos. – “Chega a ser um absurdo uma criança ser viciada em refrigerante e em alimentos industrializados cheios de conservantes”. Completa.
Copacabana Runners - Com a vida chamada moderna onde pai e mãe trabalham fora quais as dificuldades que os pais enfrentam para oferecer alimentação de qualidade para as suas crianças?
MORAES
- Na verdade a própria ansiedade dos pais em fazer com que a criança coma de qualquer jeito dificulta o processo. Olha o aviãozinho! Se não comer não vai brincar! Infelizmente ainda existe a cultura da criança gordinha ser sinônimo de saúde. Casa que tem comida criança não morre de fome. Por outro lado alguns pais com preguiça de oferecer comida saudável para as crianças acabam oferecendo as comidas prontas que “valem por bifinho”. Resultado. Além da criança não comer direito acaba comendo mais do que o necessário porque não mastiga, engorda e não desenvolve uma boa dentição. Pior ainda é quando os pais só oferecem
refrigerantes e aquelas porcarias industrializadas que vem dentro de pacotes coloridos. Estamos vendo crianças com doenças que há pouco tempo eram características de adultos como obesidade
diabetes, hipertensão arterial entre outras. Essa geração pode morrer antes dos 30 anos de idade o que não é nada comum.
CR
- E a questão da atividade física. Como os pais podem induzir suas crianças a praticar se não existe mais espaço nos centros urbanos?
M
- Tem razão. Os espaços que tínhamos antes onde brincávamos de pique na rua, jogávamos bola, íamos e voltávamos a pé ou correndo para a escola sumiram. De qualquer forma o principal problema não é falta de espaço e sim a falta de exemplo dos pais que ficam em frente ao computador e da televisão nas suas horas de lazer influenciando negativamente os seus filhos. Esses pais adoram dar jogos eletrônicos e filmes de presente para seus filhos para que eles fiquem bem quietinhos comendo pipoca e bebendo refrigerante. Se por um lado não existe muito espaço existem clubes poliesportivos, parques, academias que atendem crianças, mas acabam exigindo intervenção dos pais que têm preguiça.
CR
- Na sua visão profissional o que seria ideal para as crianças em termos de atividade física?
M
- Muitos pais erroneamente pensam que a criança tem que fazer atividade física regular nos padrões dos adultos do tipo uma hora três vezes por semana. Se perguntarmos para a criança o que ela quer fazer vão responder que querem brincar. Observe uma festa infantil onde existam vários brinquedos. Elas não param e correm o tempo todo de um lado para o outro. O pula-pula nunca fica vazio a festa toda e se não tiver um adulto para controlar sai até briga. Portanto, brincar é natural do ser humano. O que não é normal é ficar o tempo todo em frente à televisão.
CR
- Existe um limite fisiológico para as crianças brincarem? Elas podem brincar demais e ter problemas?
M
- Não existe limite porque ao contrário do adulto quando elas cansam param sozinhas. Quando descansam voltam a brincar. Com isso elas ficam cada vez mais espertas e resistentes brincando cada vez mais. O adulto é que tem essa coisa de perseverança, raça, dedicação e treinam até sentindo dor como a gente vê, por exemplo, na corrida e em outros esportes.
CR
- Você acha que alguns pais insistem que a criança faça um esporte que elas não querem?
M
- Esse é outro erro comum de alguns pais que resolvem colocar os filhos numa modalidade esportiva porque simplesmente “acham” que é melhor e pronto sem ao menos perguntar se a criança quer ou não. Pior é quando querem fazer de seus filhos o campeão que eles queriam ser e não foram para mostrar para a sociedade. Como citei geralmente são pais que nunca deram o exemplo. Quando a família pratica um esporte qualquer as crianças naturalmente imitam sem ninguém ficar “enchendo o caso delas”.
CR
- Entre os benefícios da atividade física para as crianças quais os que você acha mais importante?
M
- Em primeiro lugar é a construção de uma geração sadia. Uma criança que pratica atividade física que ela mesma escolheu e gosta naturalmente também tem uma
alimentação saudável especialmente se os pais estimularem. Quando a criança vem ao mundo vai comer o que os pais lhe oferecerem. Chega a ser um absurdo uma criança ser viciada em refrigerante e em alimentos industrializados cheios de conservantes. Muitas delas estão engordando a conta bancária até dos dentistas e contra a vontade de muitos deles. Eles orientam os pais, mas não adianta nada. Outro benefício importantíssimo é se a criança chegar à adolescência gostando de praticar esporte é quase uma garantia de mantê-las longe das drogas, do alcoolismo e de outros maus hábitos.
CR – Que conselhos você daria aos pais que realmente estejam preocupados com essa questão?
M – Em primeiro lugar que realmente eduquem e assumam a responsabilidade de seus filhos sem tentar transferir essa responsabilidade para outras pessoas ou escolas. Em segundo lugar que dêem o exemplo antes de exigirem dos filhos coisas absurdas. Existem pesquisas conclusivas mostrando que pais sedentários elevam em quatro vezes as chances das crianças também serem sedentárias e adquirirem maus hábitos. Todo mundo conhece o ditado. “Filho de peixe, peixinho é”. O ser humano tem o instinto do movimento. Por isso nasce, rola, engatinha, fica de pé, anda, corre, salta, arremessa e brinca conjugando todos os movimentos. O adulto é que impede esse desenvolvimento natural.
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Cartas para essa coluna:
Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 3529 - E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
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