Entrevista com Luiz Carlos de Moraes: Os vovôs da nova geração saúde

Luiz Carlos de Moraes

Luiz Carlos de Moraes é Personal Trainer há 30 anos, atende com hora marcada e próximo de completar 63 anos ainda ministra aulas de Step, Ginástica Localizada, Alongamento e Relaxamento em academia de Petrópolis. Trabalhou em uma das maiores empresas do país onde coordenou durante mais de 20 anos, em parceria com o serviço médico, programas de Qualidade de Vida para os empregados e treinou grandes equipes de corrida. No nosso site é colaborador há 6 anos.

Moraes, diz na entrevista que nós temos cinco décadas para aprender a viver bem com as pessoas e que para ser avô e poder curtir tudo que essa nova fase oferece de bom é preciso ter preparo físico. O idoso fisicamente ativo aproveita mais a vida em atividades prazerosas e baratas. “Dançar o som das baladas a noite toda numa festa familiar, ser fisicamente independente ou o mais importante ainda. Brincar com os netos”. Completa.

Copacabana Runners – Não é nenhuma novidade que a população de idosos é a que mais cresce no mundo e no Brasil não é diferente. Como você vê essa população? 

Moraes – Uma boa parcela da sociedade ainda vê o idoso como uma pessoa chata, sem assunto e quando os tem são sempre os mesmos e repetitivos. Com isso, a maioria é isolado, quando não abandonados à própria sorte com suas artrites e doenças do desuso. Embora esse seja um fato real não podemos dizer que a culpa seja “só” das pessoas à volta do idoso. Boa parte deles, ao longo da vida não cuidou do corpo, “da cabeça” e do social, fazendo desse processo uma via de mão e contramão. Chatos ou não a responsabilidade por eles é dos filhos assim como a responsabilidade sobre as crianças são dos pais. Em contrapartida os idosos que ao longo da vida investiram no bem da família se mantendo fisicamente ativos e responsáveis estão dando a volta por cima. Como faço parte dessa população sou dos que me mantenho ativo para curtir mais essa fase que é muito boa.

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CR – Pelo que está dizendo você acha que as manias que temos quando jovem podem piorar quando ficarmos velhos?

M – Uma teoria de Freud dá conta de que a vida do idoso não deixa de ser o resultado de como se investiu da arte de viver. Ou seja, da capacidade demonstrada de superar os desafios e de se adaptar a novas situações e realidades impostas pela vida ao longo de várias décadas como, por assim dizer, fosse um treinamento para a mais importante fase. A terceira idade. As manias e as neuroses tendem a piorar sim. Se elas não foram bem “transadas” quando mais jovens, onde a idade era um fator favorável sendo mais fácil “digerir” os problemas, dos sessenta em diante tudo fica mais difícil.

CR – Quer dizer então que quem é chato vai ser mais chato e quem é legal vai ser mais legal na velhice ou isso pode mudar?

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M – Nós temos cinco décadas para aprender a viver bem com os nossos semelhantes. O estado de humor é um eterno exercício de bem viver. Um sujeito chato na maioria das vezes ao longo dos anos, na velhice dificilmente será diferente. Porque será que gostamos de alguns velhinhos e de outros não? Porque será que até as rugas de alguns velhinhos são simpáticas e a de outros não? Vovô e vovó, felizmente ainda representam na nossa sociedade a imagem do bom velhinho e da boa velhinha. Pessoas que aprendemos a gostar ainda na infância. Ser avô é muito bom, desde que não seja um chato.

CR – Muita gente ainda tem a imagem do idoso um sujeito aposentado sem nada para fazer. O idoso tem mesmo que parar de trabalhar? 

M – A tão sonhada aposentadoria não pode representar simplesmente parar de trabalhar, e sim a troca de ocupação por uma mais agradável, pois muita gente ainda passa a vida inteira fazendo o que não gosta. Para isso, é preciso investir e se preparar evoluindo em busca da especialização. Alguns sexagenários são tão importantes em determinadas empresas que todo o sistema gira em torno de suas ordens ou conselhos sempre em concordância com o mundo moderno. São idosos atualizados que não perdem o poder e, perfeitamente integrados à sociedade. Algumas pesquisas mostram que quem trabalha, remunerado ou não, fazendo o que gosta vive mais e melhor.

CR – O idoso precisa mesmo fazer atividade física ou isso é um modismo?

M – Não é um modismo. Todos os órgãos internacionais de saúde sugerem atividade física de moderada a intensa para o idoso. Estar ativo nessa idade também não significa “dar uma de garotão” caindo no ridículo se arriscando em aventuras perigosas ou radicais. Existem muitas atividades físicas mais adequadas ao idoso e até mesmo os atletas participam de campeonatos classificados por faixa etária. É preferível ter 60 anos e se sentir muito bem disposto aos 60 do que sair por aí dizendo que faz tudo que um jovem de 20 faz. Isso é ridículo. A diferença de um idoso fisicamente ativo para um sedentário realmente é gritante, mas não pode ser comparado a um rapaz de 20 ou 30 anos fisicamente ativo. A atividade física para o idoso deve ser estimulada visando a Qualidade de Vida respeitando as suas preferências para que vire um hábito, sem o apelo estético distorcido.

CR – Em sua opinião quais as principais vantagens da atividade física nessa idade?

M – A vida é muito boa para se viver na terceira idade mesmo com as aposentadorias ridículas que se recebe hoje. O idoso fisicamente ativo aproveita mais a vida porque existem muitas atividades prazerosas e baratas. Entretanto, o que gera felicidade e orgulho é a independência funcional não precisando a toda hora estar pedindo ajuda para subir num ônibus, atravessar uma rua, subir uma escada, carregar ou empurrar carrinho de compras no supermercado. Poder dançar o som das baladas a noite toda numa festa familiar ou, o mais importante ainda. Brincar com os netos. Eles têm uma energia incalculável e o avô ou avó que consegue acompanhá-los nas suas brincadeiras correndo, pulando brincando de carrinho ou rolando no chão com eles além de incentivá-los para uma vida saudável deixa na cabecinha deles uma boa imagem do vovô e vovó legal. Quem não tem essa disposição perde mais uma oportunidade de ser feliz justamente da terceira e melhor idade.

CR – A que você atribui estar tão bem fisicamente na terceira idade?

M – O meu condicionamento físico se deve primeiramente à minha paixão pela prática de esportes desde a adolescência especialmente a corrida rústica que pratico até hoje. Eu fui maratonista com tempos abaixo de três horas nos anos 90 e fui treinador de boas equipes de corrida numa grande empresa brasileira. Aos quase 63 anos sou o único professor de Educação Física com essa idade no estado do Rio de Janeiro a ministrar aulas de Step avançado, Body Jump, ginástica localizada em academia e atuando como Personal Trainer. Para suportar toda essa carga de trabalho faço musculação e corro regularmente. Outro fato é que estudo o assunto que domino todos os dias lendo e escrevendo muito. São mais de 2300 artigos publicados na imprensa petropolitana, consultor da Revista Contra Relógio há mais de 18 anos e colaborador de vários sites inclusive o Copacabana Runners que considero minha casa por ter um foco na corrida que é a minha paixão.

CR – Em quais atividades físicas os idosos se fazem mais presentes?

M – Nas corridas rústicas esse fato é bem marcante na faixa etária acima dos 60 anos que recebe cada vez mais adeptos. E não é só isso. É a faixa etária que mais evoluiu os tempos na maioria das corridas mais importante do país tais como a própria São Silvestre. Dados colhidos na prova de 2006 deram conta que essa faixa etária diminuiu os tempos em três minutos para os homens e oito para as mulheres comparando com os tempos da mesma prova e percurso de 1998. As outras faixas etárias da maioria dos adultos, percentualmente evoluíram muito pouco assim como os próprios atletas de elite. Nas academias o grupo etário que mais cresce e permanece por mais de seis meses é também dos idosos.

CR – Os idosos podem fazer musculação como qualquer outro aluno mais jovem?

M – Pode e deve. Já foi tempo em que se dizia que idoso tinha que pegar pouco peso e fazer mais repetição como se fossem muito frágeis. Hoje se sabe que ao idoso é recomendado programas mais pesados com menos repetições não para desenvolver força e resistência, e sim para evitar perdê-las. Claro, desde que se façam avaliações adequadas com profissionais atualizados. O fisiculturista mais velho do mundo tem 99 anos e a vovó fisiculturista mais velha do mundo tem 75 anos. Somos avós da nova geração saúde e quem faz atividade física regular nessa idade aumenta a sua garantia de fábrica.

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Cartas para essa coluna:
Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 3529 - E-mail: lcmoraes@compuland.com.br

Para Refletir: Para burlar a lei é preciso ser mais inteligente que o normal porque precisa conhecê-la muito bem e enxergar as brechas. Quem não sabe fazer isso é melhor cumprir a lei e pronto. Moraes 2009.
Sobre a Ética: Quem se diz com vocação para julgar os outros das duas uma: É um Deus ou tem muita coisa para esconder. Moraes 2009.


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