Os escândalos que atormentaram o Tour de France de 1998 divulgaram
amplamente o sistemático abuso do hormônio sintético EPO para melhorar
a performance. No começo do Tour de France, os ciclistas Alex
Zuelle e Laurent Dufaux, da
equipe Festina, admitiram tomar
EPO, e o diretor da equipe confessou organizar o doping sob controle
médico. Enquanto a imprensa popular demonstrou choque em relação ao uso
disseminado de EPO entre ciclistas de ponta, aqueles próximos ao esporte
indicavam que o abuso do EPO havia permeado o escalão de topo dos ciclistas
pela década passada.
O
que é EPO?
EPO
(abreviação de eritropoietina) é um hormônio secretado pelo rim que
estimula a medula óssea a elevar a produção de células vermelhas do
sangue. O principal benefício do treinamento em altitude é aumentar a
produção natural de EPO
(eritropoietina), o que eleva a quantidade de hemoglobina
no sangue. Oxigênio é transportado no sangue ligado à hemoglobina.
Portanto, uma elevação de EPO ocasiona o aumento na capacidade de
transporte de oxigênio pelo sangue. Mais oxigênio no sangue significa
mais oxigênio alcançando os músculos para a produção de energia
aeróbica, o que melhora a performance de ciclistas, corredores de longa
distância e outros atletas de resistência.
Há
duas formas ilegais de elevar a capacidade de transporte de oxigênio no
sangue de um atleta. Uma é o doping sangüíneo, a qual era a melhor
tecnologia disponível nos anos 70 e boa parte da década de 80. Doping
sangüíneo envolve remover e estocar um litro do próprio sangue,
esperar algumas semanas até que o corpo tenha restaurado a quantidade
de células vermelhas do sangue, e então reinjetar as células vermelhas
estocadas. Doping sangüíneo requer a redução da qualidade do
treinamento depois que o sangue for tirado, e é um procedimento bastante
complicado.
A
maneira moderna de aumentar ilegalmente a capacidade de transporte de
oxigênio do sangue é injetar a versão sintética de EPO. Esse hormônio
é produzido sinteticamente para tratar pacientes com mau funcionamento
dos rins, câncer e
AIDS. Pelos últimos 10 anos, uma parte da produção
de EPO fez seu caminho para aos mãos de atletas. No começo desse ano, Eddy
Planckaert, belga ex-campeão de ciclismo, confessou ter tomado EPO em
1991 e declarou que durante os últimos dois anos de sua carreira (1990 e 91)
muitos outros ciclistas estavam usando EPO. Porém, junto com a melhora
na performance em decorrência de EPO, vem uma série alarmante de mortes
controversas entre ciclistas de topo. Entre 1987, quando EPO ficou
disponível na Europa, e 1990, dezoito ciclistas belgas e holandeses
morreram abruptamente, levantando suspeitas que os usuários ingenuamente
não sabiam que estavam brincado com fogo.
Por
que EPO é perigoso?
O
mesmo efeito que melhora a performance de resistência também põe em
risco a saúde do usuário. Ao elevar a densidade do sangue, EPO aumenta o
risco de coagulação
sanguínea, o que pode bloquear os vasos sangüíneos
causando infarto
ou ataque
cardíaco. Uso
de EPO também causa hipertensão e pode ocasionar
convulsões e
falência congestiva do coração. Esporte significa testar os limites.
Infelizmente, no caso de EPO, o limite sendo testado é o quão alta a
quantidade de células vermelhas no sangue do atleta pode aumentar antes
que o fluxo sanguíneo seja interrompido levando à morte.
Hematócrito
é a proporção do sangue que é feita de células vermelhas sanguíneas.
Os níveis normais de hematócrito são de aproximadamente 40-50% em
homens, e 37-47% em mulheres. EPO pode
elevar o hematócrito bem acima desta faixa. À medida que o atleta fica
desidratado durante o treinamento ou competição, o volume sanguíneo é
reduzido, ocasionando elevação do hematócrito e a resistência do
sangue para fluir. Durante uma maratona, o hemotócrito de um corredor
não-dopado pode aumentar de 45 a 55%. Não há um valor determinado no
qual o hemotócrito torna-se perigoso, porém o risco aumenta geometricamente em níveis de hemotócrito acima de 55%. Se um maratonista
dopado com EPO começar a competição com 52%, seu hemotócrito pode
subir acima de 60% durante a maratona.
EPO
pode ser detectado?
O
desenvolvimento de um teste válido e confiável para detectar EPO
sintético foi a maior prioridade do Comitê Olímpico Internacional antes
da Olimpíada de Sidney
2000. O desenvolvimento do teste demorou vários
anos devido à dificuldade de produzir um anticorpo que pudesse
distinguir o EPO sintético do hormônio produzido naturalmente, e porque
a meia-vida do EPO sintético no sangue é de apenas 6-8 horas. O teste de
EPO agora é válido e seguro, e vem sendo cada vez mais usado no esporte
internacional.
Não
há dúvida que a injeção de EPO sintético pode melhorar a performance
de corredores de longa distância e outros atletas de resistência.
Considerando o uso disseminado entre ciclistas, seríamos ingênuos ao
pensar que o abuso da utilização de doping por EPO também não seja
prevalente em nosso esporte.
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Créditos:
Tradução copyright © por Helio Augusto Ferreira Fontes
Texto copyright © por
Pete Pfitzinger
Pete Pfitzinger é fisiologista do exercício com mais de 20 anos de
experiência em treinamento de atletas. Pete acredita no princípio
de que cada corredor é único e que os programas de treinamento
devem ser moldados de acordo com os pontos fortes e fracos de cada
atleta individualmente.
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