Quando eu e Gordon Bakoulis, editor da
Running Times, discutimos "escute seu corpo" como tópico da
coluna mensal, hesitei porque parecia algo muito leve para meu gosto.
Depois de pensar mais, concordei e, como sempre, pesquisei a literatura
científica para obter mais informações.
Não foi surpresa descobrir que
não havia dados sobre os benefícios para atletas de escutar seu corpo,
uma vez que isso é impossível de mensurar. Porém, as informações a
seguir baseiam-se em 30 anos de experiência na corrida.
Como participante
de duas olimpíadas, você deveria pensar que tenho os treinamentos
elaborados corretamente desde o princípio. Ao contrário. Os erros foram muitos e
algumas lições foram aprendidas repetidas vezes.
Os
maiores erros aconteceram quando forcei meu corpo para fazer mais do que
ele poderia suportar. Em retrospecto, os sinais estavam sempre lá, geralmente
em forma de dor ou fadiga.
As conseqüências de ignorar esses sinais
têm sido invariavelmente ficar mais tempo sem correr do que se tivesse
prestado atenção e diminuído o treinamento antes. Por exemplo, em 1985
tive vários sinais de overtraining. Eu tinha sintomas claros, como acordar
no meio da noite com a pulsação a 80 batimentos por minuto, fadiga
constante e performances ruins nos treinos de
velocidade.
No começo,
minha resposta foi treinar mais forte com o pensamento de que não estava
em boa forma. Depois de 4 meses de figurativamente bater minha cabeça
contra as paredes, tirei 5 semanas de treinos leves e voltei mais forte.
Encontrando seus verdadeiros limites Escutar
seu corpo não significa falta de perseverança, mas a vontade de
encontrar seus verdadeiros limites físicos. Corredores quenianos
têm a merecida reputação de escutar seus corpos, porém certamente não
são indulgentes com eles mesmos. Se um corredor queniano sente-se bem,
ele pode estender a corrida de 2 horas por mais 30 minutos. Por outro lado,
se o corpo reclama durante o caminho, uma corrida planejada para duas
horas poderia ser diminuída. De forma similar, quando Bill Rodgers fica
doente, ele não se força a uma corrida de 32 km. Ao invés, ele vai pra
casa, descansa e sente-se melhor.
A chave é ter confiança em si mesmo para saber dar uma pausa somente
quando for necessário. Se você tiver medo que ao cortar seu treinamento uma
ou duas vezes isso vire um hábito, então irá forçar seu corpo
irracionalmente durante o treino. Essa atitude leva a que pequenos
problemas transformem-se em lesões sérias ou doenças. Ao ignorar uma
pequena lesão, 80% das vezes ela se desenvolve em algo mais sério.
Quando
minha fascia plantar direita ficou dolorida, ignorei. Depois de continuar
treinando e completar duas maratonas, acabei precisando de cirurgia. O
tempo que fiquei parado devido à lesão, cirurgia e reabilitação foi de
9 meses. Quando, um ano depois, minha fascia plantar esquerda ficou
dolorida, alongamentos, tênis modificado e duas semanas sem treinos de
velocidade resolveram o problema. Até um cabeça-dura acaba aprendendo!
Quando não correr forçando
Se você nunca teve uma pequena lesão, então é provável que não
esteja empurrando os limites da sua performance na corrida. Isso não
significa que as lesões sejam insígnias de honra, mas que elas são
inevitáveis se você está treinando forte. Porém, como vimos, se
você realmente quer maximizar sua performance, então treinar mesmo com
dor e lesões é contra-produtivo, porque quase invariavelmente ocasiona em
tempo maior parado, já que acabará com uma lesão mais séria para se
recuperar. Correr forçando é uma indicação de obsessão e não de
treinamento inteligente.
Você pode ajudar o processo do aprendizado de responder aos sinais do
corpo ao registrar informação detalhada no seu diário de corrida.
Escreva os detalhes de como se sentiu, por exemplo: "panturrilha
direita dolorida hoje, um pouco pior do que ontem, especialmente nas
ladeiras". Quando você tiver um estiramento severo na panturrilha
poucos dias depois, verificará com clareza que seu corpo estava o
alertando para dar um descanso. Depois de algumas
situações como esta, você acabará aprendendo a escutar os sinais do
seu corpo.
Escutar
seu corpo também pode ajudá-lo a ajustar seu treinamento de modo que as
pequenas lesões curem sem uma parada completa da corrida. Ao verificar a
resposta do seu corpo ao treinar sobre superfícies macias, trocar tênis
de corrida, ou evitar correr ladeira abaixo, você poderia descobrir que
pode
continuar treinando enquanto sara da lesão. Não se engane. Se correr
dói, e a dor não vai embora depois dos primeiros 3 minutos, então pare a
corrida e faça cross-training até que possa correr sem dor.
Escutar seu corpo o dá constantes informações que podem ajudá-lo a
melhorar sua performance na corrida. Aprenda a diferenciar entre
desconforto de em esforço forte e dor de uma lesão. Aprenda a perseverar
com a primeira e reagir inteligentemente à última. Depois de 30 anos de
corrida, ainda estou aprendendo.
Saiba
mais:
Que consequências o corredor pode ter se continuar a treinar sentindo dor?
Dicas para correr para manter a
forma
Dicas para evitar lesões típicas em corredores
Lesões por esforço repetitivo - LER
Meniscos - Lesões, cirurgia e
tratamento
Lesões por superuso x Lesões traumáticas
Psicologia e respostas emocionais a lesões esportivas
Dor no Joelho - Síndrome Patelofemoral
Corridas de longas distâncias e mercado antropofágico
Importância do descanso para o corredor
Lesões esportivas: como prevenir
|