Depois de um bom tempo sem visitar o médico, na primeira consulta vem a prescrição: exames laboratoriais. "Após a bateria de testes, com os resultados em mãos, muita gente se assusta, principalmente quando há variações no hemograma", afirma o hematologista Jorge Vaz, do Centro de Oncologia e Hematologia de Brasília (Cettro).
O médico já está acostumado a receber, no consultório, pacientes que atribuem qualquer alteração no exame a uma possível
leucemia. O especialista destaca que há uma gama extensa de causas para alterações no hemograma, sendo a mais comum delas a anemia. "Para chegar ao diagnóstico avaliamos outros aspectos além desse exame específico, tais como: histórico familiar, alimentação, uso de medicamentos e drogas, entre outros".
Decifrando o Hemograma - O hemograma é o exame que analisa as variações quantitativas e morfológicas dos elementos figurados do sangue. Depois de coletado do paciente, um equipamento computadorizado conta cada um dos três principais tipos de células sangüíneas: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas (células de coagulação).
Os glóbulos vermelhos contêm hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio pelo organismo. A presença de hemoglobina abaixo dos valores de referência - por exemplo, níveis menores que 12 gramas por cento - indica a presença de anemia. É importante ressaltar que a anemia por si só não é uma doença. Dr. Jorge explica que é como uma febre, indicando apenas que há algo de errado com organismo, sendo muito importante detectar a causa.
"As anemias resultam de dois tipos de problemas básicos: baixa produção dos glóbulos vermelhos pela medula óssea (carência de vitaminas, anemia aplástica e leucemia) ou destruição excessiva no organismo (hemólise -
anemia
falciforme, talassemia e doenças auto-imunológicas). A causa mais freqüente de
anemia é a carência de ferro, especialmente entre mulheres na idade fértil, devido à perda menstrual" afirma Dr. Jorge, acrescentando que 70% das mulheres terão carência de ferro em algum momento da vida.
Quando a hemoglobina está elevada (poliglobulia), o que é pouco comum, ocorre aumento da viscosidade sanguínea, elevando o risco de obstrução dos vasos sanguíneos e da ocorrência de
Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) e
infartos.
Os leucócitos (glóbulos brancos) são as células que combatem as infecções. Os valores normais relacionam-se com as características genéticas de cada população. No Brasil, de maneira geral, consideram-se normais valores entre 3.200 e 11.000. Quando o indivíduo apresenta alguma infecção, o número de leucócitos aumenta como forma de resposta do organismo.
Leucócitos discretamente inferiores aos valores de referência (leucopenia) são um achado freqüente na população, o que raramente significa algum problema de saúde. "Em geral, apenas refletem características individuais que podem ser de natureza genética. Isso não representa um estado de doença e, portanto, não tem necessidade de tratamento", avalia Dr. Jorge.
Já as plaquetas participam da
coagulação do
sangue, impedindo a ocorrência de sangramentos. Uma diminuição no número de plaquetas pode desencadear hemorragias. O hemograma de um indivíduo adulto apresenta entre 150.000 e 400.000 plaquetas. Quando esse valor é inferior a 50.000, há uma maior facilidade de sangramento, mesmo em pequenos ferimentos. A elevação do número de plaquetas (trombocitemia) acima dos os valores de referência é um evento raro, que resulta em maior risco de formação de coágulos e consequentemente de eventos como
embolia
pulmonar, tromboses arteriais e
AVCs.
"Esses são os aspectos principais. No sangue, além das células, temos a parte líquida, o plasma, composto por água, sais minerais e proteínas, as quais têm funções de transporte de substâncias (hormônios e enzimas) e também de coagulação. O hematologista leva em conta todos esses aspectos para estabelecer um diagnóstico. Quando necessário são pedidos outros exames para ter maior precisão", conclui Dr. Jorge.
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