Uma em cada 500 crianças nascem com hidrocefalia, conhecida popularmente como “água na cabeça”. A doença acarreta problemas neurológicos, aumento do tamanho da cabeça e apresenta até risco de morte.
Essa “água” é, na realidade, o chamado líquido cefalorraquidiano, que fica acumulado dentro das cavidades do cérebro e ocasiona uma pressão no crânio. “Quando ocorre bloqueio da circulação ou dificuldade de absorção, as cavidades se dilatam e a pressão aumentada resulta em efeitos graves sobre o cérebro”, explica o neurocirurgião infantil do Instituto de Neurologia do Hospital Ecoville, Dr. Charles Kondageski.
O especialista esclarece que há dois tipos de hidrocefalia: as congênitas e as adquiridas. “Nas congênitas, a dilatação das cavidades já está presente ao nascimento e ocorre por má-formação da medula espinhal, fatores genéticos ou ambientais – esse último, ainda sem grandes comprovações científicas. No caso das hidrocefalias adquiridas as principais causas são traumas, tumores, meningites e hemorragias do encéfalo, e podem acontecer em qualquer faixa etária”.
O tratamento cirúrgico deve ser realizado o mais rápido possível para minimizar as complicações. Há dois tipos de cirurgias que são realizadas no Instituto de Neurologia, as derivações liquóricas e as cirurgias endoscópicas. “As de derivação são feitas com dois cortes, um na cabeça de aproximadamente 3 cm e outro no abdômen. Por essas incisões são introduzidos os cateteres para drenagem do excesso do líquido. Podem ser ainda utilizadas as válvulas programáveis, que permitem ajuste do ritmo da drenagem”, esclarece Dr. Charles. Já na cirurgia endoscópica o corte é feito apenas na cabeça e um endoscópio é introduzido nos ventrículos cerebrais para realizar a retirada da água.
Os procedimentos duram em média uma hora e o paciente permanece no hospital para observação por três dias. “Como atualmente são utilizados fios que são absorvidos pelo organismo, não há necessidade de retirar os pontos. O acompanhamento após a cirurgia é essencial e inclui exames de tomografia e ressonância”, completa.
Atendimento ao portador
O Hospital Ecoville possui um serviço de psicologia que faz atendimento ao portador de hidrocefalia. “Fazemos uma avaliação do paciente para que se defina a melhor forma de tratamento e quais os problemas causados pela doença”, detalha a Dra. Samanta Blattes da Rocha, neuropsicóloga e chefe do Serviço.
A especialista explica que o portador, por conta da pressão craniana, costuma apresentar três tipos de distúrbios: incontinência urinária, dificuldade para caminhar e alterações cognitivas. “Todas essas mudanças precisam de acompanhamento psicológico. Além disso, também fazemos atendimento para as famílias, para que elas compreendam o porquê dessas dificuldades”, salienta Dra. Samanta.
A hidrocefalia na terceira idade pode causar demência. “Esse quadro é reversível. Quando a cirurgia é realizada a tendência é que o problema desapareça”, comenta.
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