Você já se perguntou por que alguns corredores não dão muita
importância ao calendário à medida que os anos passam, enquanto outros
parecem bater numa parede de tijolos? Ou por que alguns saem da
obscuridade para tornarem-se asses de sua faixa etária quando alcançam
seus 40 ou 50 anos? Você não detesta quando um "novo garoto"
de 50 ou 60 anos o coloca para trás na colocação da sua faixa etária?
Por que alguns corredores envelhecem mais elegantemente do que outros?
O
quão rápido você envelhece deve-se tanto à sua genética, quanto ao
seu estilo de vida geral. Seus genes desempenham o maior papel em o quão
rápido você cai aos pedaços à medida que os anos passam. Os seus genes
regulam uma miríade de processos que coletivamente descrevemos como
envelhecimento. Eles dizem ao seu organismo para fazer milhares de tipos
de proteínas, como hormônio de crescimento
humano, colágeno e testosterona; e o corpo de algumas pessoas naturalmente faze melhor uso dos bons ingredientes e os constroem por mais tempo. Isso ajuda
a explicar porque alguns corredores perdem músculos e ganham gordura
apesar de seus melhores esforços, enquanto outros entram na
meia-idade com pouca mudança na composição corporal e performance.
Infelizmente, até hoje há muito pouco que você possa fazer a respeito
de seus genes (mas fique ligado).
Outro
fator principal no envelhecimento é seu estilo de vida. O efeito
acumulativo do álcool, gordura saturada, cafeína, noitadas, açúcar, e
vida dura em geral, cobra seu tributo ao seu fígado, coração, cérebro
e o resto do seu corpo. Para ter uma boa idéia de como você irá
envelhecer, examine seus pais e tente decompor as diferenças de estilo de
vida entre você e eles, lembrando que a genética é geralmente o fator
mais determinante.
Para
corredores, porém, os fatores de idade cronológica, genética, e estilo
de vida geral contam somente parte da história. Para determinar sua
"idade de corredor", você também precisa levar em
consideração sua história de corrida.
Vamos
dar uma olhada rápida na carreira de vários corredores de destaque que
tiveram resultados impressionantes numa idade relativamente avançada e
ver se há alguns aspectos comuns em seus sucessos.
A
britânica Priscilla Welch começou a correr competitivamente aos 34 anos
de idade, terminou em sexto lugar na Maratona Olímpica aos 39, e
estabeleceu a melhor marca mundial na categoria masters com o tempo de
2:26:51 dois anos depois na Maratona de Londres. Aos 42, Priscilla venceu
a Maratona de Nova Iorque 1987.
O
neozelandês Jack Foster trocou o ciclismo competitivo pela corrida por
volta dos 35
anos e estabeleceu a melhor marca da maratona na categoria masters com o
tempo de 2:11:19 aos 41 anos. O recorde de Jack foi batido na Maratona de
Boston 1990 por seu compatriota John Campbell, que conseguiu sua melhor
marca pessoal com o tempo de 2:11:04. John foi um corredor júnior
promissor, ficou anos afastado e voltou para a desforra pouco antes dos 40
anos. Em 1993, John aposentou-se novamente com problema crônico no nervo
ciático e somente voltou às competições seis anos depois, na idade de
50 anos, e correu uma soberba meia-maratona em 1:06:49.
Teria
Priscilla vencido a Maratona de Nova Iorque se tivesse competido na
adolescência e juventude? Teria Jack corrido uma maratona em 2:11 depois
dos 40 anos se estivesse treinando e competindo por 20 anos? John deu a si
mesmo três carreiras como corredor ao saber quando deveria recarregar suas
baterias?
Talvez.
Mas leve em consideração Carlos Lopes,
que venceu o Campeonato Mundial de Cross Country
aos 37 anos e depois aos 38. Ele também venceu a Maratona Olímpica de
1984, aos 37 anos de idade, e seguiu a isso a quebra da melhor marca
mundial com 2:07:12 na Maratona de Roterdã 1985 aos 38 anos. A historia
de Carlos, porém, é diferente das de Priscilla, Jack e John. Carlos teve
uma carreira internacional de sucesso por várias décadas, incluindo uma
vitória no Campeonato Mundial de Cross Country em 1976 (e duas outras
provas entre os 3 primeiros colocados), e a medalha de prata nos 10.000 metros da
Olimpíada de Montreal.
Talvez
não seja necessário começar a competir numa idade avançada, ou perder
alguns anos no meio de sua carreira, para tornar-se um atleta de ponta
quando estiver chegando aos 40 anos (ou muito depois). Talvez os mais de
20 anos de treinamento e competições sejam o que permitiram Carlo Lopes
alcançar um nível tão elevado.
Cada
quilômetro que você correr é dinheiro no banco em termos de melhora do
condicionamento aeróbico. Quanto mais você correr, mais capilares,
enzimas aeróbicas, mitocôndrias e dúzias de outras mudanças positivas
acontecem nos seus músculos para ajudá-lo a tornar-se um melhor
corredor. Infelizmente, mais corrida também geralmente significa mais
lesões e mais tecidos cicatrizados. É o equilíbrio entre as
adaptações positivas de anos de treinamento e as rupturas e
cicatrizações acumuladas em nosso corpo que determinam sua "idade
de corredor".
Como
mais de 600 passadas por quilômetro, suas pernas e costas suportam muito
choque durante uma corrida de 8 km. Sessenta e quatro quilômetros por
semana representam mais de 40.000 passadas. Durante o ano isso significa
mais de 2 milhões da passada, imagine então no curso de toda sua vida
como corredor.
Lesões
vêm e vão, mas geralmente deixam um pouco de algo para lembrá-lo que
estiveram lá: um músculo que enrijece um pouco mais rápido, um
ligamento super-estendido ou uma pequena perda na propriopercepção.
Quanto mais lesões você tiver, e quanto mais severas elas forem, mais
esses pequenos lembretes acumulam tendo como resultado você não
poder treinar tanto ou tão intensamente como antes. Isso não é uma conseqüência
direta da idade, mas de sua história como corredor. No
meu caso, o meu corpo é como um pequeno carro necessitando urgentemente
de alinhamento frontal. Caso eu corra muito longe ou muito rápido, me espedaço.
Priscilla,
Jack, John e Carlos alcançaram a idade de 40 anos com um equilíbrio
positivo entre quilômetros no banco e ruptura e cicatrização nos seus
corpos. Essa mesma equação determina sua "idade de corredor". Sua própria combinação de herança genética, pecados e
virtudes no estilo de vida, quilômetros no banco e histórico de lesões
determinam se você é mais jovem ou mais velho comparado à sua idade
cronológica.
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