Dia desses ao estacionar meu carro numa vaga de idoso logo apareceu um cara com tom de dono da verdade falando alto, claro e em bom tom. - Ei! Essa vaga é de idoso! – E daí? Respondi quase no mesmo tom e emendei. - Você já me perguntou se sou idoso? Não devia, por ele não ser nenhuma autoridade de trânsito, mas mostrei a minha autorização colocando-a no painel do carro. Afinal, não fui eu quem fez a lei e com mais de 60 anos faço valer os meus direitos.
Depois, cá com “meus botões,” fiquei pensando no acontecido. O sujeito na verdade me elogiou e eu devia ficar envaidecido porque, para ele, não aparento ser idoso. Ele esperava alguém com aparência de velho acabado,
obeso com dificuldade de se locomover pedindo ajuda até para sair do carro. É impressionante como a sociedade ainda tem aquela velha imagem do
idoso de bengala quase se arrastando. A vida mudou e para melhor. A faixa etária que mais cresce no mundo inteiro é a do idoso e a expectativa de vida está aumentando. Entretanto, porque será que as pessoas ainda vêem o idoso como uma pessoa chata e sem utilidade? Eu diria que a culpa não é minha nem daquele cidadão. A vida é uma via de mão dupla.
Uma teoria de Freud dá conta de que a vida do idoso não deixa de ser o resultado de como se investiu na arte de viver. Ou seja, da capacidade demonstrada de superar os desafios e de se adaptar a novas situações e realidades impostas pela vida ao longo de várias décadas como, por assim dizer, fosse um treinamento para a mais importante fase. A terceira idade. As manias e as neuroses tendem a piorar. Se elas não foram bem “transadas” quando mais jovens, onde a idade era um fator favorável sendo mais fácil “digerir” os problemas, dos sessenta em diante tudo fica mais difícil. A velhice é o resultado do que você é hoje em dobro. Se é legal com as pessoas será em dobro, se é chato também.
A gente já sabe que na parte física o corpo naturalmente vai perdendo as suas funções. Já ficou demonstrado, por exemplo, que a perda da força e da
massa muscular na sexta década pode chegar a 15% sendo um fator ligado também à diminuição dos hormônios sexuais. O idoso perde força e massa muscular, mas já se sabe que a
musculação pode diminuir a velocidade dessa queda hormonal e massa muscular mostrando inclusive resultados surpreendentes.
Hoje é praticamente impossível falar em saúde do idoso sem incluir a
atividade física que mesmo com os avanços da ciência ainda é cercada de mitos como se todos trouxessem um rótulo: cuidado, frágil! O excesso de zelo, muitas vezes por falta até de conhecimento tem levado alguns profissionais de saúde a recomendar e/ou prescrever ao idoso nada além de uma simples caminhada ficando muito aquém das suas reais necessidades motoras do cotidiano. Como qualquer pessoa, o idoso vai ao mercado ou à feira, pega ônibus, carrega bolsa de compras pesadas, abaixa, senta, levanta e atravessa a rua depressa.
Portanto, precisa de força, velocidade, resistência, coordenação motora, equilíbrio e flexibilidade para ser ao menos independente.
O tal sujeito que me interpelou deve estar bem desatualizado também. Nas competições as faixas etárias que mais crescem em termos de número de participantes é a de mais de 60 anos. E não é só isso. Em termos de desempenho também. É a faixa etária que mais evolui os tempos na maioria das corridas mais importante do país tais como a própria São Silvestre. Dados colhidos na prova de 2006 deram conta que essa faixa etária diminuiu os tempos em três minutos para os homens e oito para as mulheres comparando com os tempos da mesma prova e percurso de 1998. As outras faixas etárias de adultos, percentualmente evoluíram muito pouco inclusive os atletas de elite.
Nas academias o grupo etário que mais cresce é dos idosos. Se beneficiam dos resultados que aparecem mais devagar, mas aparecem. O fisiculturista mais velho do mundo tem 99 anos, o maratonista 100 anos, o triatleta 90 e no ano passado o maratonista brasileiro mais velho morreu com 97 anos tendo completado 114 maratonas sendo 14 num mesmo ano.
Sou do tempo que respeitávamos os mais velhos. Sou do tempo que o professor entrava na sala e tínhamos que levantar. Sou do tempo também que os mais velhos se davam ao respeito e não precisavam de leis para isso. A culpa não é minha nem do tal cidadão. O preconceito está até na placa da vaga reservada ao idoso. Por que o desenho do velhinho com bengala? Já é tempo de substituí-lo por um velhinho fazendo ginástica. Não acham?
Cartas para essa coluna:
Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 3529 - E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
Para Refletir: Viver muito é o que todo mundo deseja e tem as suas vantagens e desvantagens. Especialmente depois dos 70 uma das desvantagens é ser convidado para muitos enterros (Moraes 2012).
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Texto copyright © 2012 por Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 003529
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