Quando o assunto é obesidade, o índice de massa corporal (IMC) quase sempre é colocado em questão, seja no consultório médico ou em uma roda de amigos.
Ao dividir o peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros), pode-se saber imediatamente se há necessidade de entrar em regime ou não. Se o número resultante do cálculo ficar entre 18,5 e 24,9, tudo está bem. Abaixo disso, a pessoa estará com pouco peso. Até 29,9 é considerado sobrepeso e, acima disso, obesidade.
Apesar de a tabela do IMC ser amplamente utilizada, um estudo que acaba de ser publicado pela revista médica The Lancet coloca em questão o uso irrestrito do índice, especialmente quando usado para determinar se o excesso de peso pode aumentar o risco de desenvolver um problema cardíaco.
A pesquisa resolveu processar informações de 40 estudos feitos anteriormente, em que foram tratados dados referentes a 250 mil pacientes. Os testes estatísticos mostraram que apenas no caso da obesidade mórbida havia uma correlação direta com o IMC e, mesmo assim, quando existia algum tipo de disfunção cardíaca prévia.
Outros resultados revelaram até situações paradoxais. Indivíduos com IMC na faixa do sobrepeso, por exemplo, apresentavam menor chance de desenvolver doença cardíaca do que aquelas com peso considerado normal.
Essa contradição, segundo os autores, estaria relacionada à pouca precisão do IMC. “O índice, por exemplo, não diferencia gordura de fibras musculares”, disse Abel Romero-Carral, da Clinica Mayo, principal autor do estudo.
De acordo com a italiana Maria Franzosi, do Instituto Mario Negri de Milão, que comentou o artigo na mesma edição da revista, apesar de a nova análise não mostrar nada de muito novo, ela tem um papel importante por colocar o IMC no centro do debate. “Definitivamente, esse índice deve ser deixado de lado quando a intenção for relacionar obesidade com doenças cardíacas”, afirmou.
Para a pesquisadora, uma nova metodologia deve ser pensada. Segundo ela, algumas outras medidas, como a circunferência do abdomen, por exemplo, parecem ter mais precisão do que o IMC.
Os autores do estudo destacam que, apesar das contradições verificadas pela pesquisa, em termos gerais o IMC é uma medida que continua sendo aceita para a indicação da obesidade das pessoas. E o excesso de gordura, o cigarro e a dieta continuam como os principais vilões do sistema cardíaco, lembram.
Fonte: Agencia
Fapesp, 18/08/2006.
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