Certos animais como os insetos e os batráquios, em algum momento de suas vidas sofrem mudanças de forma ou estrutura muitas vezes transformando em seres completamente diferentes.
Com seres humanos acontece algo similar ao longo da vida no que se refere a comportamento, satisfação com a vida e o que cada um considera felicidade.
Aos vinte e poucos anos achamos que somos capazes de tudo e temos “pique” para fazer o que quisermos e grande confiança no futuro. Depois vem a responsabilidade, a escolha da carreira, a construção de uma nova família, os filhos, os ideais, os sonhos e etc. Tudo conforme idealizado.
Por volta dos quarenta e poucos anos, para algumas pessoas, vem as decepções, a transformação hormonal, a insatisfação com a carreira mal escolhida, casamento desfeito, filhos sem rumo certo e o questionamento com quase tudo. Afinal, estou trabalhando para chegar aonde? A família deu certo? Quando vou me aposentar? O que vou fazer? Aí vem o medo do futuro mais próximo que o jovem não tem embora o futuro seja muito mais incerto que o do quarentão. A depressão é muito mais presente nas pessoas de meia idade independente de sexo e raça e muito mais comum do que se pensava por conta de todos esses questionamentos.
Quem sobrevive a essa fase passa por uma espécie de metamorfose e, tendo adquirido hábitos de vida saudável, ao entrar na terceira idade, ou próximo dela, costuma voltar a ser feliz com a sensação do dever cumprido e bem resolvido fazendo somente as coisas que realmente dão prazer. Muita coisa não valeu à pena fazer como, por exemplo, trabalhar em excesso achando que ganharia mais dinheiro ou um cargo muito importante que renderia status e poder em detrimento da saúde. Outros descasam e casam de novo reconstruindo suas vidas não cometendo os mesmos erros do primeiro matrimônio. São mais tolerantes e sabem o que vale à pena se aborrecer ou não. Não dá para abraçar o mundo com as pernas e a felicidade é muito mais simples.
A tristeza é um sentimento natural do ser humano como qualquer outro. É problema quando passa do limite e não conseguimos reagir transformando em
depressão. É problema quando por qualquer motivo procuramos o médico para receitar antidepressivo ficando escravo e viciado nos “Prozac´s da vida” enriquecendo os laboratórios que fazem a festa com as vendas. Quem quer ficar triste fica por qualquer motivo: porque está chovendo, porque está sol, porque o filho não liga, porque liga demais. A tristeza nem sempre é patológica.
Os velhos que conseguem dar a volta por cima são aqueles que de alguma forma investiram na família, pois os valores nela enraizado certamente ajudarão nos momentos de crise que todos nós em algum momento da vida passaremos. A ajuda familiar e/ou médica consciente serve apenas como um empurrão induzindo o sujeito a caminhar sozinho.
É de fundamental importância que as pessoas tenham adquirido hábitos de vida saudável tais como fazer atividade física, um importante alicerce para uma terceira idade feliz porque dispensa a preocupação da família sendo muito bom se sentir capaz. Isso garante a independência de se poder fazer tudo sozinho, tomar banho, vestir-se, sair, atravessar as ruas com seus perigos, andar nas calçadas cheias de buracos e improvisos a cada esquina, conversar com as pessoas, contar as suas histórias e dividir as suas experiências. Para muitos idosos a cidade é uma verdadeira trilha de aventura. Além disso, o exercício físico libera substâncias conhecidas como peptídeos capazes de produzir uma sensação de prazer que se prolonga por algumas horas, muito similares aos efeitos das drogas. Como é o corpo que produz, felizmente ficamos viciados em exercício e não nas drogas contidas nos medicamentos.
A ajuda médica, como já dito, é importante, mas precisa ser conduzida de forma que o sujeito saia progressivamente da crise até caminhar sozinho com suas próprias pernas.
Fala-se muito em depressão e ela realmente existe, porém precisamos ter o cuidado, assim como outras doenças, se ela não é fruto de uma opinião pública orquestrada por alguma classe dominante para atender algum interesse que não seja o da saúde física e mental. O jovem tem o mundo a seus pés, o maduro a incerteza, o velho a felicidade que lhe resta. É viver cada dia como se fosse o último livre de muitas obrigações que lhe atormentaram por muito tempo.
Cartas para essa coluna:
Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 3529 - E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
Para Refletir: Ditar condutas aos outros pode ser arriscado. A menos que, a sua seja exemplar.
Sobre a Ética: Nenhum profissional consegue sozinho ser o melhor. Por isso, para somar é preciso dividir os conhecimentos com a classe e a sociedade. Se não ganhar nada com isso, também não perde.
Saiba
mais:
Entrevista com Luiz Carlos de Moraes: Os vovôs da nova geração saúde
Os Novos Velhos
Exercícios aeróbicos, alongamentos e flexibilidade para idosos
Novos Velhos - Exercícios físicos para idosos
Novos Velhos - Custo Energético, Sarcopenia, Massa Muscular e Óssea
Os Pilares de uma velhice saudável
Velhice saudável - o Corpo Desacelerando
Velhice saudável - Força, Capacidade Aeróbia e Flexibilidade
Nutrição e Idoso Ativo
Psicomotricidade no adulto e na terceira idade
Idosos velozes e furiosos - Idoso na corrida e saúde
A corrida é indicada para idosos e até que idade pode-se correr?
Velhice saudável - A aposentadoria
Depressão em idosos
Depressão na terceira idade
Sedentarismo em idosos
Mãe Natureza e Pai Tempo - Corredores veteranos
Como ficar em forma e fabuloso na terceira idade
Idade e metabolismo: Como evitar ganho de peso ao envelhecer
Por que engordamos depois da meia-idade?
|