Treino em alta altitude

Pergunta: Como o treino na alta altitude beneficia o condicionamento do corredor?

Corredor - CDC/ Amanda Mills

Resposta do Professor Carlos Gomes Ventura

O treinamento em altitude, beneficia realmente os corredores de longas distancias. Com meus atletas tivemos experiências interessantes e os resultados foram muito bons.

Na década de 90 como treinador do SESI, treinamos em Arequipa (Peru  que está a 2200 m acima do nível do mar, naquela época juntamente com meu colega Asdrúbal Ferreira Batista levamos para Arequipa um grupo de fundistas com destaque para Valdenor, Adauto, Vanderlei Cordeiro, Sonia Maria, Leite, Clodoaldo do Carmo, fizemos uma experiência de treinamento que acreditamos tenha dado certo, infelizmente após este período no Peru, meu amigo e técnico Asdrúbal veio a falecer. Mas continuei dando treinos em altitude, como em Bolder nos EEUU, Saint Moritz na Suíça.

Sempre levei em conta algumas orientações sugeridas nas minhas experiências na Itália e que foram de muito valor. Todos treinadores sabem que o treinamento em altitude provoca um aumento dos níveis de eritropoietina (EPO) aumento este de forma natural de forma endógena, acontece também o incremento da quantidade de mitocôndrias e de enzimas aeróbias na atividade muscular.

Em fevereiro de 2000 no Arizona em Flagstaff houve um Simpósio relativo ao treinamento em altitude e chegou-se a conclusão que o nível ideal para treinamento é de 7000 a 8000 pés ou seja 2100 a 2400 metros.

De fato os resultados obtidos sempre foram positivos, existe também a vertente de que o corredor deve viver em altitude e fazer seus treinos ao nível do mar.

Contudo algumas linhas na filosofia de performance podem ser adotadas como iniciar a adaptação durante cerca de 30 dias, preocupar-se quando competir em altitudes mais baixas descer 24 a 40 horas antes do evento.

Também, pesquisadores franceses concluíram que algumas alterações nos percentuais da alimentação devem ser seguidos :
aumentando o percentual de glicídios de 55% ao nível do mar para 60% na altitude, diminuindo os lipídios 30% ao nível do mar para 27% em altitude, diminuindo também o percentual de protídeos de 15% ao nível do mar para 13% em altitude.

O organismo procura, naturalmente alimentos em que a transformação energética exige um mínimo de oxigênio, a ingestão de água aumenta pela secura do ar, a necessidade de vitaminas aumenta devido a diminuição do oxigênio, principalmente para o cérebro um grande consumidor de oxigênio.

Como treinador acredito que o treinamento em altitude exige uma disciplina espartana do corredor, e disponibilidade presente diária do treinador.

Carlos Gomes Ventura (Carlão) blog, Telefone: (11)3686-5384, e-mail

Livro
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Resposta do treinador Nilson Duarte Monteiro

Depende de como é realizado o treino em altitude, pois em vez de beneficiar pode prejudicar o condicionamento do atleta; por quê?

Porque muitos técnicos pensam que só ir treinar em altitude já é uma forma de melhorar o condicionamento do atleta, pois ele vai adquirir mais hemácias, um melhor transporte de oxigênio nos músculos quando retornar para o nível do mar, mas o buraco é mais embaixo.

Para se ter um bom aproveitamento dos treinamentos em altitude, tem-se levar em conta vários fatores, não é só subir e correr. Depende do fator barométrico, depende da adaptação que cada um tem, depende do sexo, depende da temperatura, depende do local, depende da logística, depende da equipe multidisciplinar, depende da alimentação, tem mais coisas que me fogem a memória, mas esses que eu citei são os mais importantes, então vejamos cada um:

- Fator barométrico: Ao nível do mar, o ar exerce uma pressão barométrica é maior e na altitude a pressão barométrica é menor conforme subimos, fazendo com que diminua o número de moléculas de oxigênio por unidade de volume, ou seja, uma menor pressão parcial de oxigênio (pO2), ou seja, o consumo máximo de oxigênio (VO2 max) é reduzido.

- Adaptação : As alterações fisiológicas, como conseqüência da hipóxia, ocorrem nos primeiros momentos de exposição à altitude. Essas adaptações são fundamentais para o fornecimento de oxigênio aos tecidos, seguidas por adaptações crônicas que podem levar meses. Essa aclimatação varia de pessoa para pessoa. Como os homens são mais fortes fisiologicamente que as mulheres, levam menos tempo para se adaptar, pois as mulheres tem o batimento cardíaco mais acelerado que os homens e, como quanto mais subimos mais acelerado é o batimento cardíaco, vocês já imaginaram o sofrimento da mulherada. Essa adaptação pode levar dias ou semanas.

- Temperatura - Geralmente quanto mais subimos mais frio fica e menos vontade de beber água. Pronto, taí um dos perigos do treinamento em altitude. O pessoal que sobe o morro normalmente se descuidam da hidratação, e é aí que mora o perigo, pois o sangue fica muito viscoso, podendo dar uma embolia pulmonar.

- Local de treino na altitude - Tem-se que escolher bem o local de treinamento, pois geralmente os percursos são muito acidentados, o que vai prejudicar o trabalho; por quê? Porque o treinamento em altitude não é para trabalharmos a força e sim a resistência, muita rodagem, o que veremos a seguir.

Logística - Vai depender de que trabalho específico será feito na altitude, ou seja, se for subir o morro para aumentar a capacidade cárdio-pulmonar (resistência), a logística não é muito importante, pois fica-se lá em cima até o trabalho terminar. Mas, se o trabalho envolver resistência e velocidade, ou seja, quantidade com intensidade, aí a logística é fundamental, assim como o local. Então vejamos, resistência associada com treino de qualidade, o local do treino de altitude deve ser perto do local do treino de qualidade, ou seja, o cara treina quantidade/volume nas alturas e treino de velocidade perto do nível do mar; um exemplo de lugar ideal para se fazer isso é Campos do Jordão e Taubaté. Campos do Jordão, treino de volume; Taubaté, treino de qualidade. 

Equipe multidisciplinar - Nutricionista, que vai levantar o que o cara deve comer e a quantidade, pois quanto mais alto, mais é o gasto calórico. Fisiologista, para monitorar o desgaste do sujeito aliado ao treinador.

Não vou me alongar muito, pois se não o texto fica muito grande. Mas, uma coisa é certa, treino em altitude é uma faca de dois legumes, se não for feito levando-se em conta todas as variáveis possíveis, o tiro pode sair pela culatra, ou o feitiço virar contra o feiticeiro.



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