O Barão Pierre de Coubertim em 1894 recriou os Jogos Olímpicos na esperança de que o evento fosse usado para pacificar os povos e os conflitos cessados restabelecendo a “Trégua Sagrada” como nos Estados Gregos. Para Coubertim os ideais Olímpicos deveriam estar acima de qualquer interesse político a tal ponto de qualquer conflito mundial ser suspenso, durante a realização dos jogos não importando quem estivesse supostamente ganhando a guerra ou em vantagem num conflito. Para sua decepção isso não aconteceu durante a 1ª Guerra Mundial – 1914 a 1918 quando havia marcadas as Olimpíadas de Berlim em 1916 e durante a segunda Guerra Mundial – 1939 a 1945 com as Olimpíadas de Helsinque e Londres previstas respectivamente para 1940 e 1944.
A mais sangrenta Olimpíada foi sem dúvida a de Munique em 1972 quando 11 atletas israelenses foram barbaramente assassinados por um comando palestino integrante do grupo “Setembro Negro” cuja causa política, junto com outros grupos, era a implantação de um estado palestino.
Em Montreal, quatro anos depois, 28 nações africanas se ausentaram protestando contra a presença da Nova Zelândia que dois meses antes havia feito uma excursão com sua equipe de rugby pela África do Sul que insistia na política de segregação racial. Apenas Senegal e Costa do Marfim representaram a África negra não aderindo o movimento preferindo não misturar política e esporte. Se Coubertim estivesse vivo teria aplaudido essas duas nações.
Em Moscou 1980 os Estados Unidos liderou um boicote por conta dos efeitos ainda da guerra fria entre americanos e soviéticos. Entretanto, o evento ficou marcado com a lágrima derramada pelo ursinho Mischa, na cerimônia de encerramento conquistando a simpatia de todos.
Entretanto, de que adiantou o ursinho chorar se em Los Angeles 1984 os soviéticos lideraram um boicote sob alegação de falta de segurança para suas delegações?
Durante oito anos o mundo perdeu a oportunidade de ver os maiores nomes do esporte se defrontar derrubando recordes e a esperança seria em Seul que também foi cercada de expectativa diante da questão das duas Coréias. A União Soviética apoiava a atitude da Coréia do Norte de participar somente se a ela fosse dada a chance de dividir a responsabilidade de junto com a do Sul organizar o evento, idéia que foi parcialmente negada. A Coréia do Sul ofereceu a organização apenas para algumas modalidades e as cerimônias de abertura e encerramento. A atitude foi também negada pela do Norte que liderou um boicote arrastando Cuba, Albânia, Angola e Ilhas Seychelles. Cuba literalmente “quebrou a cara”, pois esperava o apoio da União Soviética que não aconteceu.
Mesmo com o boicote, em Seul talvez tenha sido o começo da renovação das esperanças de revivermos os ideais Olímpicos da “Trégua Sagrada”. O presidente coreano Roh Tae-Woo conseguiu negociar com a oposição que problemas políticos não interferissem nos jogos.
Essa atitude foi repetida em Barcelona 1992 quando o governo espanhol também obteve sucesso nas negociações com o grupo ETA, organização terrorista que luta pela independência da Catalunha.
Em Sidney 2000 a reconciliação dos colonizadores ingleses que durante anos dominaram a Austrália com os aborígines foi o fato político mais positivo.
Agora na China estamos presenciando a não interferência nos jogos na questão dos russos terem invadido a Geórgia gerando um conflito entre russos, georgianos e norte-americanos, mas os atletas permanecem competindo.
A China pretendia mostrar ao mundo que o seu sistema de governo é um exemplo a ser seguido. Se por um lado o evento é um Marketing para o país, por outro mostra o “lixo debaixo do tapete”. O regime autoritário fere os direitos humanos e os conflitos brutais no Tibete vieram à tona. Que regime é esse que permite a passagem da tocha Olímpica somente por onde interessa? Na própria solenidade de abertura foram escondidos os períodos da invasão japonesa em parte de seu território, o governo Mao Tse-Tung e a Revolução Cultural. As 56 etnias presentes na China foram representadas cada uma com sua bandeira por crianças simbolizando uma suposta união, pois estavam presentes as tibetanas e muçulmanas como se nenhum conflito estivesse acontecendo. Por mais entranho que pareça a periferia da cidade está cercada por enormes tapumes com paisagens panorâmicas. Quando acontece um acidente de trânsito em questão de minutos os veículos são retirados não deixando nenhum vestígio no local. Será que a preocupação com as vítimas é a mesma?
Os atletas é que até agora estão demonstrando evolução. Nenhuma das 204 delegações fez protestos, mesmo os prometidos e a própria delegação norte-americana pediu desculpas pela questão das máscaras.
Cartas para:
lcmoraes@compuland.com.br
Para Refletir: “As más companhias são como um mercado de peixe; acabamos por nos acostumar ao mau cheiro”. Provérbio chinês.
Sobre a Ética – O profissional de Educação Física não precisa ser um atleta, mas deve dar o exemplo zelando pela sua saúde, higiene e educação.
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