O Brasil todo ficou indignado com a maldade e frieza da personagem Yvone, interpretada pela atriz Letícia Sabatella, personagem da novela Caminho das Índias, escrita por Glória Perez. Melhor amiga de Silvia, interpretada por Débora Bloch, Yvone arquitetou planos e ações, destruindo a vida de quem a interferisse em suas atrocidades, para conseguir status, dinheiro e poder. Sem nenhum arrependimento ou consciência pesada.
Esse tipo de pessoa pode até parecer personagem de novela, mas os psicopatas correspondem a 4% da população. E não há cura para eles. Quem afirma, é a renomada psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, que foi consultora da novela e ajudou a construir o perfil da personagem Yvone. A autora Glória Perez se inspirou em um livro da médica, “Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado”, que já vendeu mais de 120 mil exemplares.
Os psicopatas
Frios e calculistas, mentirosos contumazes, egocêntricos, megalômanos, parasitas, manipuladores, impulsivos, inescrupulosos, irresponsáveis, transgressores de regras sociais, muitos são violentos e só visam o interesse próprio.
Estes são os psicopatas, indivíduos que apresentam um Transtorno de Personalidade, que se caracteriza por total ausência de sentimento de culpa, arrependimento ou remorso pelo que faz de errado.
Muitas pessoas imaginam que quem sofre desse transtorno são pessoas violentas, com aparência de assassino e que pode ser reconhecido em qualquer lugar. A psiquiatra afirma que não é tão simples assim identificar esse perfil de individuo. Até os profissionais da área médica e psicológica podem ser facilmente enganados por eles, uma vez que os psicopatas representam muito bem. “A maioria nunca vai chegar ao extremo de cometer um assassinato e se passa por uma pessoa comum. Eles estão infiltrados em todos os meios sociais, credo, sexo, cultura. São os verdadeiros atores da vida real”.
Níveis de
psicopatas
Ana Beatriz explica que há três níveis de psicopatas: o leve, que aplica os famosos golpes 171 (estelionato ou fraude) e atinge uma pessoa; o moderado, que aplica o mesmo golpe, porém em uma esfera social mais alta e acaba lesando milhares de pessoas; e o grave, que seria o serial killer, o assassino para quem não basta matar, é preciso haver requinte de crueldade. Esse último tipo, porém, é raro.
Dos 4% de psicopatas da população, 1% é grave e 3% são leves e moderados. “A personagem Yvone, por exemplo, é uma psicopata de nível médio, pois ela sempre lesa uma só pessoa, nunca um grande sistema, e não é capaz de matar”, afirma a médica.
Sem afeto, o psicopata não possui nenhum problema cognitivo, a razão funciona bem e ele tem a capacidade plena de distinguir o que é certo e o que é errado. Segundo a psiquiatra, ele tem certeza que está infringindo a lei, mas não se importa com isso e até calcula os danos para saber o custo-benefício da ação, diz a psiquiatra.
Ana Beatriz explica que não há, ainda, a possibilidade de curar para esse tipo de transtorno, uma vez que elas não vêem nenhum problema em suas ações, não apresentam constrangimentos morais ou sofrimentos emocionais como depressão, ansiedade, culpas, baixa auto-estima. “Tratar de um psicopata é uma luta inglória, pois não há como mudar sua maneira de ver e sentir o mundo. Psicopatia é um modo de ser”, finaliza.
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