Alguns estudantes de Educação Física perguntaram, via E-mail, sobre a questão do exercício “puxada por trás” provocar lesões de ombro por conta de terem lido um artigo na Internet citando evidências nesse sentido. O artigo sugere as pessoas optarem pela “puxada pela frente” que seria mais benéfica e mais funcional. Os estudantes ainda perguntam se não seria mais prudente abolir a “puxada por trás” nas academias.
Eu diria que não. Os problemas de dores no ombro muitas vezes têm origem no excesso de uso na prática esportiva ou na falta de sincronismo entre grupos musculares na escolha de determinados exercícios físicos na musculação, entre eles a puxada por trás. A maior parte das lesões de ombro ocorre no sentido anterior estando relacionada ao movimento de abdução, rotação externa e ou extensão, movimentos próprios do nado e o vôlei onde a gente levanta e roda o braço.
Vamos então entender de forma simplificada o funcionamento dessa articulação. O osso do braço, úmero, se encaixa na cavidade glenóide localizada na escápula. Na parte anterior temos o osso da clavícula que todos conhecemos muito bem. Como se fosse sua extensão, a escápula tem uma parte óssea chamada de acrômio da escápula. É palpável na ponta do ombro, passando para a parte posterior com o nome de espinha da escápula, didaticamente conhecidos como acidentes ósseos. Pois bem. Essas peças são, interligadas por ligamentos, protegidas por músculos e o espaço entre a cavidade glenóide e a cabeça do úmero é conhecido como espaço subacromial preenchido por partes moles e entre as funções, uma, é de evitar o atrito dessas duas partes ósseas.
As lesões nessa região, segundo a literatura atual, podem ter três origens: impacto mecânico (extrínseco), alterações fisiológicas no espaço subacromial (intrínseco) e fraqueza muscular no manguito rotator, a mais comum.
Essa fraqueza muscular pode gerar um desequilíbrio de forças vetoriais fazendo com que a cabeça do úmero atrite contra o acrômio gerando as dores e possíveis lesões, principalmente se o deltóide estiver bem desenvolvido. O exercício da puxada por trás, destinado ao desenvolvimento do grande dorsal e boa participação também do peitoral na fase concêntrica, (quando puxa), a partir da posição paralela ao chão até a posição final, é um dos que pode gerar a chamada “síndrome do impacto” caso o manguito rotator esteja fraco. É consenso entre os estudiosos que uma das funções desse grupo muscular é centralizar exatamente a cabeça do úmero da cavidade glenóide.
Entre os adeptos à musculação a puxada por trás é um dos preferidos por trabalhar músculos que aparecem, no caso grande dorsal que deixa as costas largas. Entretanto, não gostam de fazer as remadas que se destinam a fortalecer justamente o manguito rotator, músculo que não aparece. Não é a puxada por trás que lesiona e sim séries e cargas mau planejadas para cada indivíduo.
Os diversos métodos de treinamentos na musculação, que são quase infinitos, não foram criados por acaso, da mesma forma as séries e repetições têm objetivos bem distintos. Sendo assim, quando, pensamos em peitoral bem desenvolvido precisamos lembrar dos músculos lá de trás, os da cintura escapular e os do manguito rotator direcionando o movimento. Se pensarmos em um bom bíceps o tríceps faz o papel de antagonista. Portanto, não adianta gostar só de supino. Para desenvolver uma musculatura harmoniosa mesmo não gostando, a prescrição do exercício inclui remada sentada aberta e ou fechada, crucifixo invertido e plano, voador entre outros de acordo com a necessidade individual caso a caso, período por período durante todo o ano. A maioria dos estudos, inclusive feitos em cadáveres, mostrou que a causa está na fraqueza do manguito rotator. Portanto, não podemos generalizar. Algumas pessoas podem e devem fazer a puxada por trás por ser um excelente exercício de correção postural, outras não. Por questões de mais ou menos flexibilidade existem pessoas que inicialmente não poderão fazer, mas com treinamento adequado e bem orientado depois de certo tempo estarão aptas também a fazer o exercício. Como convencer, por exemplo, um fisiculturista a não fazer? A palavra mágica é: Bom senso.
Eu li o artigo e num ponto eu concordo. A puxada por trás não prioriza nenhuma atividade funcional. Ou seja, é muito mais comum no dia a dia a gente puxar alguma coisa pela frente do corpo do que por trás. Cortar lenha, capinar, bater com o martelo, puxar corda, subir numa escada ou até em árvore e etc. Portanto, tudo depende, para quem é, porque e quando fazer.
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