Saber que tem que usar camisinha, muita gente sabe. Agora, se o uso for eventual, de nada adianta. Para a teoria virar prática na adoção de um comportamento seguro é preciso que as ações educativas e preventivas tenham caráter contínuo e sistemático. Isso é o que demonstra pesquisa do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento da Universidade de Brasília (UnB).
O estudo, coordenado pela professora Eliane Seidl, foi realizado no primeiro semestre de 2003, com a participação de 78 adolescentes entre 12 e 17 anos. Deles, 72% eram homens. Os jovens cursavam o ensino fundamental da Escola Classe 5 do Guará I. Foram feitas três oficinas de quatro horas e aproximadamente 25 pessoas em cada grupo. O nível de conhecimento, as crenças e atitudes sobre sexualidade e práticas seguras foram avaliados em dois momentos, antes e depois das oficinas com um questionário auto-aplicável, somando 22 questões fechadas e duas abertas. Ao responderem as perguntas, os jovens usaram apelidos para que os resultados apresentassem o máximo de fidelidade possível. Nas questões, foram avaliadas as atitudes durante as práticas sexuais, a percepção de benefícios e barreiras ao uso da camisinha.
Conforme as respostas, um total de 32% dos jovens tinha relações sexuais. Dessa parcela, 68% relataram o uso do preservativo em todas as relações e apenas 4% informaram nunca ter usado. “O alto índice do uso de camisinha demonstra que os jovens estão informados a respeito da Aids”, comenta a professora. Esses dados são superiores ao que demonstra a pesquisa de Comportamento Sexual da População Brasileira e Percepções do HIV/Aids, do Ministério da Saúde. De acordo com essa pesquisa, os jovens entre 16 e 25 anos são os maiores usuários de camisinha – 44,4% deles se protegem. A informação é relevante, já que, nessa idade, os adolescentes têm mais dificuldade em negociar o uso do preservativo pela falta de experiência, além da impulsividade e curiosidade natural da fase em que se encontram.
PELA SEGUNDA VEZ – Ao ser aplicado pela segunda vez, após a oficina, o questionário revelou uma melhoria do conhecimento sobre o HIV, suas formas de transmissão e prevenção, por conta do aumento no número de acertos nas perguntas fechadas. Os estudantes também demonstraram um aumento do nível de auto-percepção em relação ao conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs/AIDS). Entretanto, em relação às crenças e atitudes a diferença não foi estatisticamente significativa. Um aspecto limitante que pode ter influenciado nesse resultado foi a duração dos encontros. “Foi um tempo curto (quatro horas) para que resultasse na mudança de crenças e atitudes dos jovens. O ideal é ter um grupo para debater esses temas inserido no contexto escolar para que os encontros seja regulares”, avalia Seidl.
No segundo momento, no entanto, foi possível verificar o aumento do número de participantes que relataram vantagens no uso do preservativo durante a relação sexual. No discurso das questões abertas, os estudantes disseram que a camisinha aumenta a segurança, protege contra as DSTs e o HIV, além de evitar a gravidez. Como desvantagens foram citadas a possibilidade de a camisinha furar, a diminuição do prazer e o incômodo durante a relação.
No futuro, a idéia da pesquisadora é capacitar alunos de graduação da UnB para trabalhar essas questões entre os jovens com regularidade em escolas do DF. ”A receptividade deles é muito boa, 100% referem gostar das oficinas”, conta ela que atribui o sucesso à metodologia participativa, na qual os jovens expõem o que sentem e pensam ao invés de assistirem a palestras.
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