Nas
provas de longas distâncias, como a Maratona, é muito comum nos
depararmos com atletas que, durante boa parte do percurso, correm com
viva satisfação, muita disposição e entusiasmo, até acenando para
o público. Parece que não sentem o calor, as passadas são seguras,
o ritmo é constante mas, repentinamente, quase que sem explicação,
os braços tornam-se pesados e as pernas movem-se com dificuldade; a
musculatura se contrai dolorosamente, o ritmo diminui drasticamente e
cada passo a mais transforma-se num suplício que parece não haver
mais fim.
Esta
situação, que ocorre freqüentemente entre os corredores de longas
distâncias, é um fenômeno fisiológico conhecido pelos maratonistas
como "barreira dos 30 km".
O termo "barreira" é adequado a esse momento, tamanho é o
impacto provocado nos atletas, que esbarram num obstáculo quase que
intransponível.
O
que determina o surgimento dessa "barreira" é a duração do
esforço (longo tempo para terminar a prova) e a intensidade do mesmo
(ritmo muito forte), além das condições atmosféricas.
Portanto,
as razões para o surgimento da "barreira" podem ser provocadas
por três motivos distintos: a falta de glicose circulante, a falta de glicogênio
muscular
e o superaquecimento do organismo.
No
primeiro caso, os atletas são atingidos após 2-3 horas de corrida,
quando a glicose circulante na corrente sangüínea vai sendo consumida
pelos músculos para obtenção de energia. Isso provoca uma hipoglicemia,
ou seja, uma diminuição da quantidade de glicose circulante, falta
"combustível" e o atleta é obrigado a diminuir a velocidade e,
na maioria da vezes, abandonar a competição.
Os
atletas mais lentos são os mais atingidos pela hipoglicemia, pois ainda não
possuem um nível adequado de preparação que lhes permitem grandes
desempenhos em provas de longa duração, levando horas para terminarem a
prova e, quanto mais demoram, maiores as dificuldades. Podem até ir
longe, mas sofrerão grandemente os efeitos da falta de glicose.
Entretanto,
a hipoglicemia pode ser evitada, desde que o atleta inicie a prova com
suas reservas de glicogênio hepático em alta (o fígado armazena glicogênio
e, quando necessário, o transforma em glicose para a manutenção dos níveis
glicêmicos na corrente sangüínea). Assim, através da ingestão
adequada de carboidratos antes e durante a competição, o atleta,
correndo num ritmo confortável, obterá um bom desempenho nas provas
longas.
A
segunda causa da "barreira" é a mais frustrante de todas. Ela
atinge justamente os atletas mais rápidos, e ataca sem aviso prévio.
Esses
atletas, devido ao ritmo competitivo forte, acabam por utilizar suas
reservas musculares de glicogênio para obtenção da energia,
esgotando-as precocemente.
Quando
as reservas de glicogênio esgotam-se nos músculos em atividade, nada
mais há a fazer. A velocidade cai assustadoramente e, o atleta que vinha
tão bem, acaba por desistir da disputa, vendo muitos o ultrapassarem, sem
qualquer reação.
A
falta de glicogênio muscular, porém, pode ser solucionada através do
treinamento bem orientado e de uma dieta
alimentar
que forneça
diariamente quantidade ideais de carboidratos (pelo menos 60-65% do valor
energético total). Infelizmente, durante a prova, pouco se pode fazer.
O
superaquecimento, a terceira causa da "barreira"", é a
mais perigosa para a saúde do atleta. A elevação da temperatura
corporal ou o superaquecimento pode realmente ameaçar a vida dos atletas.
Assim,
disputar uma competição em condições climáticas inadequadas, onde a
temperatura ambiente e a umidade relativa do ar não são favoráveis à
disputa competitiva, pode dificultar todo o processo fisiológico de
regulação da temperatura corporal, provocando sérios danos ao organismo
do atleta, podendo levá-lo até mesmo à morte.
Para
se evitar os riscos do superaquecimento, deve-se ingerir líquidos
regularmente, tanto durante os treinos quanto nas competições e após as
mesmas, seguindo-se as recomendações dos especialistas.
Entendendo-se
as causas da "barreira" e como evitá-la, ou seja, através do
treinamento bem orientado, de uma alimentação equilibrada e balanceada e
de uma adequada hidratação e suplementação de carboidratos durante a
prova, poderemos superar com sucesso esse obstáculo fisiológico que nos
impede a realização de grandes desempenhos.
|
|