Embora os homens possam usar a vasectomia como método contraceptivo, estudo realizado pela enfermeira Flávia Ribeiro Manhoso mostra que a técnica é escolhida na maioria dos casos devido a problemas com a saúde da mulher. A pesquisa também aponta que os homens não se preocupam em usar preservativo após a vasectomia, o que aumenta o risco do contágio de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) como a aids.
Flávia entrevistou homens de baixa renda entre 25 e 45 anos que passaram por reuniões de planejamento familiar em um posto de saúde de Interlagos (Zona Sul de São Paulo). "A maioria escolheu a vasectomia devido a problemas de saúde na parceira causados por cesarianas ou outros anticoncepcionais, em especial a pílula, injeções e o Dispositivo Intra-Uterino (DIU), e medo de complicações na cirurgia de laqueadura de trompas", destaca. "Nenhum veio por iniciativa própria, mas só após muito diálogo entre o casal, apesar da média de 3 a 6 filhos por família."
De acordo com a enfermeira, os entrevistados optaram pela vasectomia por indicação de amigos ou foram encaminhados ao planejamento familiar por meio do pré-natal da companheira. "Eles tem pouca informação sobre o método, por isso há um grande receio de que a cirurgia prejudique a vida sexual", ressalta. "Houve homens que deixaram de ir às reuniões por medo da incisão ou sentimento de vergonha diante dos profissionais de saúde."
Flávia
explica que os homens devem fazer dois espermogramas, 30 e 60 dias após a
cirurgia, para verificar se não há mais produção de espermatozóides.
"Na pesquisa, parte dos vasectomizados não retornaram com os exames, e se
não forem usados outros métodos anticoncepcionais, podem voltar a ter filhos
mesmo operados", alerta. "Os homens entrevistados também não
relacionam o uso de camisinha com a prevenção de DSTs, passando a dispensá-la
depois da vasectomia."
Antes do homem realizar a vasectomia, o casal precisa passa por três reuniões de planejamento familiar com especialistas, onde são apresentados os métodos contraceptivos. "Apenas os homens maiores de 25 anos e com dois filhos vivos podem utilizar a técnica", explica a pesquisadora.
Depois da triagem feita por uma assistente social, um médico e um psicólogo os homens assinam um termo de consentimento e são encaminhados para a cirurgia, que é realizada no próprio posto de saúde. "Os pacientes não podem manter relações sexuais nas 24 horas seguintes à vasectomia, mas a maioria dos entrevistados se relacionou antes desse prazo."
Flávia observa que o planejamento familiar quase sempre é feito por meio da mulher. "Há uma grande procura pela laqueadura de trompas, cirurgia que é feita somente em hospitais e tem uma grande fila de espera no serviço público", diz. "A vasectomia é uma contribuição que pode ser esperada do homem, sendo bem mais acessível no aspecto sócio-econômico do que a laqueadura."As conclusões do estudo estão no mestrado da enfermeira, apresentado na Escola de Enfermagem (EE) da USP.
Fonte: Júlio Bernardes , Agencia USP, 17/01/2006.
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